Há dois anos publiquei um artigo denominado Nossas escolas. Nele, relatei a dramática situação de infraestrutura de muitas de nossas escolas das redes públicas estaduais e municipais. Os dados eram oficiais, provenientes do Censo Escolar de 2020, a partir de questionários autodeclaratórios das próprias unidades escolares.

Ao publicá-lo, minha intenção era alertar gestores e cidadãos para a gravidade e a dimensão do problema, assim como para a relativa facilidade de sua solução, que não exige vultosos recursos financeiros nem sofisticados projetos de engenharia.  Com prioridades bem definidas e uma gestão atenta, bons resultados poderiam ser alcançados em curto prazo.

Não foi o que aconteceu.

Um ano depois, a partir dos resultados do Censo Escolar de 2021, escrevi novo artigo, atualizando os números que desnudam nossa hipocrisia coletiva, ao proclamarmos em uníssono a educação como prioridade e na prática abandonarmos milhões de nossas crianças, exatamente as mais carentes, em pardieiros e pocilgas que não merecem o nome de escolas.

Agora, novamente debrucei-me sobre o Censo Escolar de 2022, disponível em www.gov.br/inep e em www.qedu.org.br.

Infelizmente, não houve mudanças significativas. Os progressos foram mínimos, com exceção do acesso à internet.

Das 137.335 escolas alcançadas pelo Censo 2022, 91% (124.398) não dispõem de laboratório de ciências, 69% (94.393) não contam com uma biblioteca e 65% (88.669) não possuem uma quadra de esportes. É isso: a grande maioria de nossas escolas não tem laboratórios para iniciação científica, biblioteca para pesquisas ou instalações para práticas esportivas. Além disso, 75% (102.791) carecem de salas de atendimento para crianças e jovens com necessidades especiais.

A ausência de infraestrutura chega ao absurdo em alguns/muitos casos. Imaginem, leitores/eleitores, se é possível uma escola funcionar sem banheiros, sem água, sem luz elétrica e sem esgoto. Pois bem. No Brasil de 2022, tínhamos 6.879 escolas sem esgoto, 4.755 sem banheiros, 3.208 sem água e 3.031 sem energia elétrica.

Em muitas cidades onde se localizam tais escolas, o poder público patrocina milionárias festividades de toda ordem (carnaval, gospel, sertanejos etc.), disputando com as localidades vizinhas qual delas receberá os artistas mais famosos (e mais caros). No entanto, ano após ano, alunos e professores são submetidos a condições impraticáveis para uma educação de qualidade.

Como é possível que nós, brasileiros, toleremos essa situação?

Não me conformo. Por isso, mais uma vez, registro essa denúncia e esse apelo à consciência das autoridades e à indignação dos cidadãos. E, sinceramente, espero não ter que repetir esse artigo ano que vem. Vamos agir?

 

Luiz Henrique Lima é Doutor em Planejamento Ambiental e professor.