Artigo de Alipio Reis Firmo Filho, conselheiro substituto do TCE/AM

A pandemia deu um ultimato ao mundo: até que ponto os países estariam preparados para responderem a ela? No final de janeiro último, o Instituto Lowy da Austrália divulgou o resultado de uma pesquisa envolvendo 98 nações. Segundo ela, a Ásia e a Europa alcançaram o melhor desempenho e o continente americano o pior. A Nova Zelândia encabeçava a lista entre os melhores enquanto o Brasil amargou a última colocação. A pesquisa levou em consideração variáveis como casos confirmados, testes aplicados e óbitos, dentre outros.

Na prática, a pesquisa evidenciou a capacidade de os governantes mobilizarem recursos financeiros, humanos, insumos e da tecnologia da informação para enfrentarem o inimigo invisível. Nessa corrida, rapidez, criatividade e tomadas de decisão cirúrgicas foram fundamentais para a obtenção de bons (ou maus) resultados.

Descobrimos mundo afora que muitos políticos não tem o perfil de gestores; e que muitos gestores não tem o perfil de políticos.

Em março de 2020 o desafio era identificar os focos de infecção, isolá-los e trata-los. Muitos países aplicaram testes em massa, como a Coreia do Sul. Outros recorreram aos aplicativos como aliados, como a Nova Zelândia.

Antes que o surto pandêmico ganhasse o mundo, países como Taiwan se anteciparam a ele, já em dezembro de 2019. Enviou especialistas a Wuhan para acompanharem o que lá estava acontecendo. Proibiu a entrada de estrangeiros e a saída de equipes médicas para o exterior. Obrigou o uso de máscaras e o distanciamento social. Proibiu a exportação de máscaras e elevou sua produção interna para atender sua demanda. Mediu a temperatura dos passageiros nos transportes públicos. Todas essas providências conferiram ao país uma excelente resposta à pandemia.

Por essas bandas, aguardamos passivamente que a pandemia chegasse até nós. Pior: ignoramos o vírus. Na primeira onda, sequer contamos com número de testes confiáveis para o diagnóstico da doença.

Enquanto o mundo se mobilizava a procura de uma vacina, preferimos permanecer alheios às pesquisas. Se temos hoje duas vacinas, foi graças a iniciativas isoladas. Não resultou de uma mobilização nacional.

Para ganhar tempo a Anvisa poderia ter instalado comissões de acompanhamento e validação (em tempo real) dos testes dentro do Butantan e da Fiocruz. Finalizados os testes, restariam chanceladas as pesquisas. Com essa solução a imunização dos brasileiros teria início em dezembro último e evitado muitas mortes.

Convivemos com unidades de saúde desestruturadas, boa parte delas impossibilitadas de medir o nível de coagulação sanguínea dos pacientes, por pura falta de reagentes. Altos níveis de coagulação sanguínea podem resultar em tromboses e na morte dos doentes.

Também carecemos de mecanismos que uniformizassem os protocolos médicos em todo o país. Cada profissional da saúde teve de se virar sozinho, na base da tentativa-erro. Os recursos da tecnologia da informação poderiam ter ajudado. No entanto, foram igualmente ignorados.

A telemedicina também ajudaria a salvar muitas vidas. Houve iniciativas isoladas, mas nada de âmbito nacional e integrado com a rede de saúde.

A falta de oxigênio em Manaus ilustra bem esse estado de coisas. O acompanhamento puro e simples da equação “consumo x oferta” evitaria a morte de 200 pessoas no dia 14/01/2021 Ao menor sinal de descompasso, providências seriam adotadas, como a aquisição de mini usinas de oxigênio.

Moral da história: sobram políticos…faltam gestores…

*Alipio Reis Firmo Filho, conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE/AM) e doutorando em Gestão

Fonte: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/pandemia-no-brasil-sobram-politicos-faltam-gestores/